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Foi publicado pela OCDE no passado mês de Junho um relatório sobre a evolução da desigualdade de rendimento no mundo, entre 2007 e 2011 (Rising inequality: youth and poor fall further behind. Insights from the OECD Income Distribution Database, June 2014). Essa evolução, no período sob análise, foi fortemente influenciada pela crise económica e financeira mundial, pelas diferentes expressões que assumiu e pelas respostas de política económica a que deu lugar – é o caso, por exemplo, da crise da dívida soberana no sul da Europa e da resposta dada pelos processos de ajustamento ocorridos nalguns dos seus países. O facto do processo de ajustamento português ter sido iniciado em 2011, poderá explicar o resultado relativamente mais favorável que tem em relação a outros países do sul da Europa. 

Os dados disponibilizados revelam que a desigualdade do rendimento gerado no mercado (market income inequality), medida pelo Coeficiente de Gini, teve um aumento considerável entre 2007 e 2011/12, embora a desigualdade do rendimento disponível (Disposable income inequality) tenha visto poucas alterações. Os países mais afetados pela crise económica e financeira, entre 2007 e 2011, como Espanha, Irlanda e Grécia, foram os países onde ocorreu a maior subida na desigualdade. Segundo a OCDE, os impostos e as transferências sociais permitiram amortecer alguns dos efeitos desse aumento – no entanto o rendimento dos 10% mais pobres da população continuou a reduzir ou a aumentar menos que a dos 10% mais ricos. Outra conclusão do relatório revela que durante a crise, o rendimento disponível decresceu, em termos reais, para todos os grupos etários com exceção dos mais idosos e que, entre 2007 e 2011, houve um aumento da pobreza entre a população total e, em particular, entre os jovens. 

  • Agregados com baixos rendimentos ou ficaram mais pobres durante a crise ou beneficiaram menos da recuperação

Fig1

Portugal foi, entre 2007 e 2011, o 6º país da OCDE onde o rendimento disponível dos agregados mais reduziu (-2,3% ao ano). Nos países da OCDE, a redução no rendimento foi, em média, duas vezes superior para os 10% mais pobres (-1,6%) do que para os 10% mais ricos (-0,78%) – isto aconteceu em 19 dos 33 países analisados. Ainda, destaque para a diminuição no rendimento dos 10% mais pobres na Grécia (-12,7%) e na Espanha (-12,9%): em Portugal esse valor foi -1,9%.

A OCDE sublinha a importância da implementação de medidas fiscais direcionadas aos agregados mais pobres em países como Islândia, Holanda, Nova Zelândia e Portugal, nos últimos anos até 2011, como causa da diminuição do rendimento ter sido menor do que a dos 10% mais ricos.         

  • Ao longo do período de crise, o desenvolvimento na distribuição dos rendimentos foi diferente entre os 10% mais pobres e os 10% mais ricos

Fig2

Na Figura 2, apresenta-se as diferenças anuais do rendimento das famílias na Espanha, Grécia e Portugal, entre 2008 e 2011. Na Espanha, o impacto negativo da crise financeira no rendimento das famílias começa por revelar-se logo em 2007, enquanto na Grécia e em Portugal isso só se verifica nos últimos dois anos. Em Espanha, com exceção do ano de 2010, o rendimento dos 10% mais pobres diminuiu sempre mais que o dos 10% mais ricos (este grupo que em 2009 viu inclusive o seu rendimento aumentar). Na Grécia, em 2010/11, o rendimento das famílias diminuiu em 20%, mais 5 p.p. que em 2009/10, agravando-se as desigualdades entre os 10% mais pobres e os 10% mais ricos. No caso português, em 2010/11, a diminuição no rendimento – ao contrário do que sucedeu entre 2007 e 2011 – foi superior entre os 10% mais pobres (-12% face aos -8% dos 10% mais ricos) e o rendimento total das famílias teve a maior descida de todo o período (7%).

  • O perfil da população em maior risco de pobreza mudou dos idosos para os jovens

Fig3Em 2011, 12% da população nos países da OCDE era, em termos médios, afetada pela pobreza relativa – um aumento de 0,3 pontos percentuais em comparação com 2007. Entre os países onde essa taxa de pobreza é maior encontram-se o México (21,4%), Israel (20,9%), Turquia (19,2%), Chile (17,8%) e Estados Unidos (17,4%). A Islândia e a República Checa apresentam os menores valores nesse indicador (5,9%), com os países do Norte da Europa a posicionarem-se a seguir: Dinamarca (6%), Finlândia (6,6%) e Noruega (7,7%).

Verificou-se um aumento da pobreza relativa no sul da Europa, entre 2007 e 2011, no caso de Espanha (de 13,3 para 15,1%), da Grécia (de 14 para 15,2%) e da Itália (de 11,9 para 12,6%); Portugal foi exceção, nesse período, baixando de 13,7 para 11,9% – tomando como limiar da pobreza o valor de 2005 (ano anterior à crise), os valores para o mesmo período vêm assim: Espanha, de 10,4 para 18,3%; Grécia, de 12,1 para 26,8%; Itália, de 11 para 13,7% e Portugal, de 11,8 para 12,5%. 

Fig4

Em relação à evolução da taxa média ponderada da pobreza do conjunto da população da OCDE (OCDE=100), por escalão etário (Fig. 4), o grupo dos 75 ou mais anos, em meados da década de 80, apresentava o pior resultado: 196, melhorando, de lá para cá, em 2011, em 110. O escalão dos 18-25 anos, em 2011, apresenta o pior resultado: 160, (em meados de 80, o seu valor era de 121).

Esta evolução substantiva o juízo da OCDE de que os jovens, nos últimos 25 anos, se têm tornado no grupo com maior risco de pobreza, com a crise económica e financeira a acentuar essa tendência. Este relatório refere que de 2007 a 2011, a população entre os 18 e os 25 anos sofreu as piores perdas de rendimento, particularmente nos seguintes casos: Grécia (-10,8% por ano); Irlanda (-7,2); Islândia (-6,1%); Espanha (-4,9); Estónia (-4,2) e Portugal (-3,9%). 

Por: Ana Rita Matias