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Elaborado por Renato Miguel do Carmo e Ana Rita Matias

O emprego jovem em Portugal e na Europa

Esta descrição estatística sobre emprego jovem (consultar aqui), consiste na primeira periódica do dossiê temático que o Observatório das Desigualdades passará a publicar com base nos dados de organizações nacionais e internacionais. A análise sobre o emprego jovem foi feita com base no EU Labour Force Survey, do Eurostat. A taxa de emprego jovem é calculada a partir da divisão do número de pessoas empregadas com mais de 15 anos sobre o total da população com a mesma idade. Para efeitos da análise, definiram-se como dois escalões etários a estudar jovens dos 15 aos 24 anos e dos 25 aos 29 anos.

  • Em 2015, a taxa de emprego para jovens portugueses entre os 15 e os 24 anos situava-se nos 22,8% (menos 0,4 p.p. que o ano anterior), sendo o peso do emprego masculino (24,1%) superior ao feminino (21,5%) (Quadro 1). Tendo como referência o total da população ativa, cerca de 370 mil jovens estariam nesse ano empregados, pouco menos de metade do que em 2000, onde existiam 681 mil. A taxa de emprego contínua a ser superior para os jovens mais qualificados: para indivíduos com o ensino superior a taxa situava-se nos 39,8% (uma diminuição face ao ano anterior de 0,2 p.p.); para os jovens com o ensino secundário, a taxa de emprego era de 32% (uma subida de 2,1 p.p.) e com o ensino básico, de 12,8%. (menos 1,5 p.p.). No escalão dos 25-29 anos, a taxa de emprego era superior, registando 72,4% (mais 1,3 p.p. face a 2014). Neste subgrupo, em 2015, a taxa de emprego era ligeiramente mais alta para as mulheres (72,8%) do que para os homens (72%).

    As mulheres com o ensino superior, independentemente do escalão etário, apresentam níveis de emprego superiores aos homens: nos 15-24 anos, respetivamente, 43,9% face a 33,6%; dos 25-29 anos, 75,9% face 69%. Nos restantes níveis de qualificação, os homens continuam a revelar níveis de emprego superiores, com exceção no escalão dos 25 a 29 anos, para mulheres com o ensino secundário (M = 74,6%; H = 70,4%).

    quadro1

  • A evolução do emprego na Europa a 28

    Na Figura 1.1 compara-se os valores da taxa de emprego para 2008 e 2015, nos países da União Europeia. É possível concluir que na maioria dos países europeus houve uma diminuição do indicador, incluindo na média europeia (passou de 37,7%, em 2008, para 33%, em 2015, menos 4,3 pontos percentuais).

    Neste período, os países onde o emprego jovem mais diminuiu foram: Espanha (de 36% para 17,9%, menos 18,1 pontos percentuais), Irlanda (de 46,2% para 28,7%, menos 17,5 p.p.), Chipre (38% para 25,5%, menos 12,5 p.p.) e Portugal (34,1% para 22,8%, menos 11,3 p.p.). A Hungria, que em 2008 detinha a taxa de emprego mais baixa da Europa (20,2%), logo seguida pela Grécia (23,5%), registou uma subida neste indicador (entre 2008 e 2015 subiu 5.5 pontos percentuais, situando-se a sua taxa em 2015 em 25,7%) continuando, porém, abaixo da média europeia. Em 2015, a Grécia era o país europeu com a menor taxa de emprego jovem (13%, em 2015, menos 10,5 p.p. por comparação a 2008), logo seguida pela Itália (15,6%), Espanha (17,9%) e Croácia (19%). Numa situação oposta, destacam-se como tendo mais de metade da sua população jovem empregada, países como a Holanda (60,8%), a Dinamarca (55,4%), Áustria (51.3%) e o Reino Unido (50,1%). 

    figura1-1

  • O emprego jovem em Portugal

    Na Figura 2.1 apresenta-se para Portugal e UE-28, a evolução da taxa de emprego jovem entre 2002 e 2015. Em Portugal, este indicador diminuiu ao longo do período em análise em 19,4 pontos percentuais (de 42,2% para 22,8%). Nos últimos sete anos a diminuição no emprego jovem para o país foi mais acentuado, o que se traduziu num maior distanciamento à média Europeia – em 2015, a diferença entre Portugal e UE (33%) era de 10,2 pontos percentuais.

    No caso europeu, após um período entre 2002 e 2008 onde a taxa de emprego encontrava-se a subir (de 36,6% para 37,3%, mais 0,7 p.p.), o indicador começou a desacelerar já em 2009. Quer em Portugal, como na UE-28, 2013 é o ano onde se registou a taxa de emprego mais baixa (respetivamente, 21,7% e 32,1%). Porém, os últimos dados revelam uma subida do indicador: de 2013 a 2015, Portugal aumentou 1,1 p.p., de 21,7% para 22,8%, e a UE-28 subiu 0,9, de 32,1% para 33%.

    figura-2-1

    Uma leitura desta evolução segundo o sexo permite concluir que, quer em Portugal, como na Europa, a taxa de emprego para homens e mulheres tem vindo a diminuir desde 2002. Embora a taxa de emprego dos homens seja sempre superior, tem havido uma tendência de convergência dos valores do emprego, segundo o sexo (Figura 2.2). Como já foi referido anteriormente, face a 2014, a taxa de emprego das mulheres portuguesas diminuiu de 21,9% para 21,5% (menos 0,4 p.p.), enquanto que a dos homens portugueses subiu 1,2 pontos percentuais (de 22,9% para 24,1%). Desde 2012, face à diminuição do indicador em Portugal e à relativa estagnação na UE, o gap entre os níveis de emprego das mulheres e homens portugueses face à média dos homólogos europeus é maior.

    figura-2-2

  • Padrões de educação e atividade

    Na Figura 3.1 apresenta-se a evolução dos padrões de educação e atividade em Portugal, entre 2000 e 2015, para o grupo etário dos 15 a 24 anos. Em 2015, mais de metade dos jovens portugueses (65,9%), encontravam-se exclusivamente a estudar – tendência que, desde o início do século, veio continuamente a subir (de 48,6% para 65,9%, mais 17,3 pontos percentuais). Por sua vez, o peso dos jovens que se encontravam exclusivamente a trabalhar, passados quinze anos, veio sendo cada vez menor (de 36,8%, em 2000, para 17,3%, em 2015, menos 19,5 p.p.), tendo atingindo o valor mais baixo em 2013 (16,6%).

    A proporção de jovens que estão a trabalhar e a estudar ao mesmo tempo é a mesma de que em 2000 (5,5%), porém, entre 2010 e 2011, esse valor subiu em 3 pontos percentuais (de 3,4% para 6,4%). Refira-se igualmente o aumento dos jovens não empregados que não estão em educação ou formação (NEEF) em 2,3 pontos percentuais entre 2000 e 2015 (de 9 % para 11,3%). Em 2013 este indicador assume o valor mais alto ao longo da série (14,1%), que no entretanto tem vindo a diminuir.

    figura-3-1

    Com um perfil diferente no que diz respeito aos seus padrões de formação e atividade, encontram-se os jovens entre os 25 aos 29 anos (Figura 3.2): em 2015, mais de metade estava exclusivamente a trabalhar (61,3%), embora entre 2008 e 2013, tenha havido uma diminuição de 13,9 pontos percentuais (de 70,9% para 57%). No sentido oposto, os jovens não empregados que não estão em educação ou formação (NEEF) subiu de 14,6% para 20,8%, entre 2009 e 2013. Porém, nos últimos dois anos, assistiu-se a uma diminuição neste padrão. É de assinalar, igualmente, a subida, entre 2010 e 2011, de jovens “em educação e formação” (de 7,8% para 12,5%) e de jovens “só a estudar” (8,2% para 9,5%).  

    figura-3-2

    Na Figura 3.3 apresenta-se a mesma análise, agora segundo o sexo, para os dois escalões etários. Entre 2008 e 2015, é possível constatar que, para o escalão mais jovem (15-24 anos), a proporção de jovens exclusivamente a estudar subiu quer nas mulheres como nos homens, sendo que nesta situação continuam a estar mais mulheres (em 2015, 66,3% das mulheres e 65,5% nos homens). Por sua vez, diminuiu a percentagem de jovens exclusivamente a trabalhar, sendo que para os homens esse valor, tal como em 2008, seja superior à das mulheres (18,7% e 15,8%, respetivamente). Em 2015, a proporção de mulheres em “NEEF” e “em educação e formação” contínua a ser superior, respetivamente 12,2% (mais 0,6 p.p.) e 5,7% (mais 0,8p.p.), que nos homens, 10,4% (mais 1,5 p.p.) e 5,4% (mais 1,6 p.p.).

    Em 2015, nos jovem com 25-29 anos, embora mais de metade das mulherese dos homens estejam exclusivamente a trabalhar, esse valor diminuiu face a 2008 (no caso das mulheres, houve uma diminuição de 65% para 61,4%, menos 3,6 pontos; nos homens de 76,8% para 61,3, menos 15,5 pontos) e a percentagem de mulheres exclusivamente a trabalhar é relativamente mais alta do que nos homens (0,1 p.p.. Em 2008, essa diferença era de 11,9 p.p.). Também neste escalão, as mulheres (18,8%) estão mais em situação de NEEF do que os homens (15,4%), embora tenha havido uma redução de 0,6 pontos entre 2008 e 2015 para elas e uma subida de 5,6 p.p. para eles. No que toca a estar exclusivamente a estudar, a percentagem aumentou em ambos, sendo que os homens continuam a estar mais nesta situação que as mulheres (12,6% face 8,4%, respetivamente).

    figura-3-3

    Em conclusão

É possível concluir que na maioria dos países europeus houve uma diminuição da taxa de emprego jovem. Nos países do Sul apenas um quarto a um sétimo dos jovens está empregado, por oposição a países como países como Holanda, Dinamarca, Áustria e Reino Unido, onde mais de metade desta população está empregada.

A taxa de emprego jovem em Portugal tem vindo sucessivamente a diminuir desde 2000, embora entre o período de 2009 a 2013 essa redução tenha sido mais significativa. Nos últimos dois anos o indicador subiu 1,1 pontos percentuais, mas contínua abaixo dos valores anteriores à crise de 2008. Quando cruzado com as habilitações, jovens mais qualificados apresentam taxas de emprego superiores, embora por comparação com 2014, essa percentagem tenha diminuído.

Em 2015, mais de metade dos jovens portugueses (65,9%), entre os 15 e 24 anos, encontravam-se exclusivamente a estudar (percentagem que tem vindo a crescer desde 2000, onde se registava 48,6%) e, inversamente, tem diminuído a proporção de jovens neste escalão etário exclusivamente a trabalhar. Já no caso de jovens entre os 25 e 29 anos, 61,3% estava em 2015, exclusivamente a trabalhar, o que consiste numa recuperação face à diminuição ocorrida entre 2010 a 2013 (uma diminuição de 4,3 pontos percentuais, onde se registou o valor mais baixo do período em análise (57%). Independentemente do escalão etário a que pertencem, existem mais jovens mulheres em situação de NEEF.        

Realizado por: Renato Miguel do Carmo e Ana Rita Matias