Em 2021, o panorama geral do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) denota uma diferença abismal entre o Norte Global e o Sul Global: quanto mais nos aproximamos dos valores mais baixos, maior se torna o diferencial entre países.

 

O IDH de 2021 teve por base indicadores como população, saúde, educação, emprego, riqueza nacional, segurança e perceção de bem-estar. A qualidade de desenvolvimento humano, as diferenças de género, a emancipação da mulher e a sustentabilidade ambiental e socioeconómica foram igualmente avaliadas.

África continua a ser o continente mais fragilizado, perfazendo a grande maioria dos países que se inserem no grupo do IDH baixo (<0,554). Este continua a reunir três dos países com os resultados menos satisfatórios: Sudão do Sul (0,385), Chade (0,394) e Níger (0,400). Nestes países, a situação pode ser explicada pelo crescimento populacional que, por sua vez, pressiona os poucos recursos naturais vitais existentes, além das alterações climáticas extremas provocarem a desertificação dos solos, o que impossibilita a produção alimentar, e a escassez de água potável. Estes recursos são alvo de conflito por parte das elites ou de grupos étnicos/religiosos que querem a sua posse, fator justificativo para a permanência de conflitos internos. Além disso, as dificuldades resultantes das crises alimentares e energéticas juntam-se à falta de espaço orçamental para imprimir medidas que possam fazer acelerar a recuperação da economia do continente africano, que continua a ter uma forte dependência das importações de produtos alimentares (em 2021, importou 41 mil milhões de dólares, segundo a UNECA), não conseguindo as exportações de petróleo refinado (em 2021, 5,7 mil milhões de dólares, segundo a UNECA) sobreporem-se às importações. Deste modo, toda esta insegurança alimentar leva a uma esperança de vida à nascença baixa, a um rendimento nacional bruto (RNB) per capita bastante diminuto e a uma violência de género acentuada no sexo feminino, já que é submetido a casamentos forçados, a exploração sexual, entre outras opressões, o que explica a sua baixa escolarização no presente, situação que se prevê manter no futuro.

Entre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), Cabo Verde (0,662), São Tomé e Príncipe (0,618), Guiné Equatorial (0,596) e Angola (0,586) atingem um nível de IDH médio (0,555-0,699), enquanto Guiné-Bissau (0,483) e Moçambique (0,446) permanecem com um nível de IDH baixo. Efetivamente, a secretária-executiva adjunta da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) afirmou que Moçambique e Guiné-Bissau estão entre os dez países mais pobres de África, onde entre 60 a 82% da população é pobre. Por estas razões, quer a Guiné-Bissau quer Moçambique recebem ajudas humanitárias internacionais, nomeadamente prestadas por Portugal através de um acordo estabelecido entre Médicos do Mundo e Cruz Vermelha Portuguesa.

Por outro lado, a Europa continua a apresentar os resultados mais altos neste indicador, liderando a tabela com a Suíça (0,962), a Noruega (0,961) e a Islândia (0,959). É de notar a esperança de vida à nascença ser mais elevada na Suíça (84), a supremacia do Liechtenstein relativamente ao rendimento nacional bruto (RNB) (146 830), a liderança da Alemanha no que diz respeito à média de anos de escolaridade (14,1) e a posição de destaque da Grécia relativamente aos anos de escolaridade esperados (20). O país europeu com os resultados mais baixos é, porém, a Moldávia (0,767) que, mesmo assim, insere-se na categoria do IDH elevado (0,700-0,799).

Em 2021, Portugal consolidou-se na 38ª posição, com um valor de desenvolvimento humano de 0,866, permanecendo na lista de 66 países com IDH muito elevado. É de referir, também, a troca de posições entre a Bulgária, que desceu do grupo de IDH muito elevado para o grupo de IDH elevado (0,795), e o Panamá, que passou a integrar o grupo de IDH muito elevado (0,805).

 

Quadro 1 - Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) (2021)

wdt_ID Rank Países IDH
1 IDH Muito Elevado
2 1 Suíça 0,962
3 2 Noruega 0,961
4 3 Islândia 0,959
5 4 Hong Kong, China 0,952
6 5 Austrália 0,951
7 6 Dinamarca 0,948
8 7 Suécia 0,947
9 8 Irlanda 0,945
10 9 Alemanha 0,942
Rank Países IDH

Fonte: Human Development Report 2020 (PNUD)

 

Quando observados os vários componentes do IDH, apresenta-se-nos um retrato de um mundo bastante desigual. Em termos de esperança média de vida à nascença, contam-se 17,2 anos de diferença entre os países com IDH muito elevado (78,5) e os com IDH baixo (61,3). No que toca à média de anos de escolaridade, persiste uma distância de 7,4 anos entre países com IDH muito elevado (12,3) e IDH baixo (4,9), com a vertente dos anos de escolaridade esperados a refletir, de igual forma, esse mesmo diferencial. Ademais, os resultados no rendimento nacional bruto (RNB) per capita revelam uma desigual distribuição da riqueza a favor dos países com IDH muito elevado (43 752 PPP$): o valor continua a ser mais de metade do obtido pelos países de IDH elevado (15 167 PPP$) e cerca de 16 vezes superior ao dos países de IDH baixo (3 009 PPP$).

A região da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) lidera no IDH, apresentando um valor médio de 0,899. Neste sentido, encontra-se na categoria de IDH muito elevado. Na categoria de IDH elevado, situa-se a Europa e Ásia Central, que lidera o grupo com um valor médio de 0,796, seguindo-se a América Latina e Caraíbas (0,754), a Ásia do Leste e Pacífico (0,749) e os Estados Árabes (0,708). Por sua vez, a Ásia do Sul (0,632) permanece no IDH médio. A África Subsariana (0,547) é a única região do mundo cuja média a coloca na categoria do IDH baixo. Deste modo, pode-se considerar que a escolarização, a emancipação da mulher, as diferenças de género e a sustentabilidade socioeconómica nos Estados Árabes, na Ásia do Sul e na África Subsariana são bastante reduzidas comparadas com a OCDE, a Europa e Ásia Central e a América Latina e Caraíbas, estando, inclusive, abaixo da média mundial (0,732).

 

Quadro 2 - Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e seus componentes (2021)

wdt_ID Categorias IDH Esperança de vida à nascença (anos) Anos de escolaridade esperados Média de anos de escolaridade Produto Nacional Bruto (PNB) per capita (PPP$)
1 Grupos de IDH
2 IDH muito elevado 0,896 78,5 16,5 12,3 43 752
3 IDH elevado 0,754 74,7 14,2 8,3 15 167
4 IDH médio 0,636 67,4 11,9 6,9 6 353
5 IDH baixo 0,518 61,3 9,5 4,9 3 009
7 Regiões
8 OCDE 0,899 79 16,5 12,3 45 087
9 Estados Árabes 0,708 70,9 12,4 8 13 501
10 Ásia do Leste e Pacífico 0,749 75,6 13,8 7,8 15 580
11 Europa e Ásia Central 0,796 72,9 15,4 10,6 19 352
12 América Latina e Caraíbas 0,754 72,1 14,8 9 14 521
13 Ásia do Sul 0,632 67,9 11,6 6,7 6 481
15 África Subsariana 0,547 60,1 10,3 6 3 699
16 Média Mundial 0,732 71,4 12,8 8,6 16 752
Categorias IDH Esperança de vida à nascença (anos) Anos de escolaridade esperados Média de anos de escolaridade Produto Nacional Bruto (PNB) per capita (PPP$)

Fonte: Human Development Report 2020 (PNUD)

 

Nos últimos 31 anos, o IDH português subiu 0,155 pontos. O período entre 1990 e 2000 marca o momento de maior crescimento neste indicador, o que se manifestou numa melhoria nas várias componentes. Porém, desde 2010, a evolução dos valores do IDH tem sido mais ligeira (sobretudo desde 2015), o que em parte é explicado pelo efeito da componente do rendimento nacional bruto (RNB) per capita e pela pandemia Covid-19.

Desde 1990, a esperança média de vida em Portugal subiu 6,5 anos (em 2019, situava- se nos 82 anos, valor máximo alguma vez alcançado), contudo, a vaga pandémica Covid-19 fez reduzir, pela primeira vez em 31 anos, a esperança média de vida num percurso evolutivo promissor até à data. Relativamente à média de anos de escolaridade em 1990, esta aumentou em 3,4 anos (em 2021, era de 9,6 anos), assim como os anos de escolaridade esperados aumentaram em 5,1 anos (em 2021, era de 16,9 anos). Por fim, o rendimento nacional bruto (RNB) per capita português subiu de 20 109 PPP$, em 1990, para 33 155 PPP$, em 2021. Apesar da pandemia Covid-19 ter reduzido um pouco o rendimento nacional bruto (RNB) per capita, Portugal já conseguiu recuperar desde então, tendo valores ligeiramente semelhantes aos de 2019. Portugal continua a distanciar-se de forma muito clara dos demais países com um IDH muito elevado, em particular nos anos médios de escolaridade e no rendimento nacional bruto (RNB) per capita. Além disso, calcula-se que Portugal seja um dos 15 países com IDH muito elevado que deverá perder população, segundo o cenário traçado pelo PNUD, ao passar de 10,3 milhões de pessoas em 2021 para 9,9 milhões em 2030, estando nos lugares mais baixos do grupo dos mais desenvolvidos quando se menciona a riqueza interna.

 

Quadro 3 - Evolução do IDH e suas componentes em Portugal (1990-2021)

wdt_ID Anos Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Esperança média de vida Anos de escolaridade esperados Média de anos de escolaridade Produto Nacional Bruto (PNB) per capita (PPP$)
1 1990 0,711 74,5 11,8 6,2 20 109
2 1995 0,76 75,4 15 6,4 22 018
3 2000 0,785 76,7 15,6 6,8 25 510
4 2005 0,8 78,5 15,3 7,5 26 182
5 2010 0,822 79,9 16 8,1 26 318
6 2015 0,842 81 16,4 9,1 2 586
7 2016 0,845 81,2 16,3 9,2 26 521
8 2017 0,847 81,4 16,3 9,2 27 315
9 2018 0,85 81,9 16,3 9,2 27 935
10 2019 0,864 82 16,5 9,3 33 967
11 2020 0,863 81,1 16,9 9,6 31 637
12 2021 0,866 81 16,9 9,6 33 155
Anos Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Esperança média de vida Anos de escolaridade esperados Média de anos de escolaridade Produto Nacional Bruto (PNB) per capita (PPP$)

Fonte: Human Development Report 2020 (PNUD)

 

Atualizado por Tânia Liberato

Atualizado por Maria Francisca Botelho

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