Representações acerca da mobilidade social são também comparativamente negativas. Dados do Eurobarómetro especial, intitulado “Fairness, inequality and intergenerational mobility”.

 

Portugal é o país europeu cuja população avalia de modo mais expressivo que as desigualdades internas na distribuição do rendimento são demasiado elevadas: 59% concordam com esta afirmação, 37% concordam fortemente. Os portugueses são também os que entendem mais intensamente que o governo devia tomar medidas para reduzir essa desigualdade: 94% para uma média da UE28 de 81%.

Portugal é um dos países europeus cujos cidadãos se autoposicionam menos intensamente nos dois quintis da parte superior da distribuição do rendimento  (quintis são grupos correspondentes a 20% da população. Por definição, existem cinco quintis. Os dois últimos quintis correspondem, portanto, aos 40% com melhores rendimentos). Apenas 7% dos portugueses entendem que a sua posição na hierarquia do rendimento corresponde a essa latitude (3% se se tiver apenas em consideração o último quintil – 20% do topo), muito abaixo da média de 20% apurada para os países da UE28. Em relação ao autoposicionamento na base da distribuição, os resultados para Portugal são coincidentes com os valores médios desse conjunto de países.

A avaliação que os portugueses fazem da posição que ocupam na distribuição interna do rendimento tem algum paralelo em relação ao seu entendimento acerca do lugar em que se situam na estrutura social. Portugal é o país europeu no qual as pessoas se tendem a autoposicionar e aos respetivos pais mais em baixo na estrutura social. Estas representações acerca da posição ocupada na estrutura social são acompanhadas por níveis comparativamente baixos de crença nas possibilidades de mobilidade social. Apenas 42% dos portugueses acreditam que tanto eles como a generalidade da população do país beneficiem de igualdade de oportunidades, aquém dos 58% apurados para a UE28 e de 81% na Dinamarca e na Suécia. Apesar desta avaliação comparativamente negativa em relação à igualdade de oportunidades no presente, os portugueses são dos que acreditam que as possibilidades de mobilidade social ascendente no país se tornaram mais igualitárias face ao verificado há 30 anos atrás.

Em relação às causas que fundamentam a mobilidade social, Portugal é um dos países europeus em que a educação e a proveniência social são considerados mais relevantes para o sucesso nos trajetos de vida: 77% dos portugueses consideram que advir de uma família rica é importante para se ter sucesso, na Dinamarca e na Suécia esse valor é inferior a 40%. Curiosamente, a relevância do género e do grupo étnico-racial é em Portugal desvalorizada face ao apurado na maior parte dos países europeus.

Entre os múltiplos indicadores disponibilizados pelo Eurobarómetro 471, vocacionado para a medição de representações em torno da igualdade, justiça e mobilidade intergeracional, é interessante também sublinhar os baixos níveis de confiança apurados para a população portuguesa, o elevado sentimento de injustiça dos portugueses em relação a múltiplos aspetos da vida de cada um, e uma avaliação comparativamente positiva em relação quer à globalização, quer no que diz respeito aos processos de imigração.

Frederico Cantante